Almirante Gouveia e Melo discursa durante a Convenção da Rede Doutor Finanças

E se o mundo repetisse nos dias de hoje a Conferência de Ialta de 1945, que reuniu os chefes de estado de então dos EUA, Franklin Roosevelt, da União Soviética Josef Stalin e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill?   

A resposta pode ser preocupante, na ótica do Almirante Henrique Gouveira e Melo, tendo em conta os nomes que hoje ocupam estas cadeiras de poder, o que pode servir de lição sobre o que é uma verdadeira liderança.  

“Quem estaria nessa reunião? [Donald] Trump, [Vladimir] Putin e Xi Jinping. Estamos neste momento numa crise de liderança mundial e com reflexos nas lideranças nacionais”, salientou Gouveia e Melo, durante a primeira Convenção da Rede Doutor Finanças, em Vila Nova de Gaia.  

 O ex-Chefe do Estado Maior da Armada deu como exemplo destes reflexos nas crises das lideranças nacionais “das eleições romenas” e do que “acontece nos EUA, que eram líderes incontestados das democracias ocidentais e que hoje são encarados como fatores de instabilidade e até como um perigo. 

Assim, ainda que tenha salvaguardado que não era o seu desejo “preocupar muito [os participantes deste evento] com a ordem mundial”, a realidade é que “devemos estar preocupados“.

O Almirante abordou ainda a temática da ascensão de partidos de extrema-direita em várias regiões do globo e alertou para a diferença entre autoridade e autoritarismo dos líderes. “As pessoas questionam muitas vezes a autoridade e em democracias ocidentais começam a achar interessantes as autocracias, mas no dia a dia questionamos as autoridade”, começou por referir.

A ordem e autoridade são boas, mas quando passam uma determinada barreira e deixam de ser úteis e podem ser perigosas”, sublinhou o militar, para quem um “líder carismático e autocrático acaba por ser um perigo para as sociedades”. 

Gouveia e Melo rejeitou ainda a ideia da existência de líderes messiânicos, uma neblina criada por uma necessidade de resolver problemas em pouco tempo. “Os grupos em situações de emergência procuram soluções rápidas e os problemas não se resolvem de forma rápida”. 

Assim, “desconfiem sempre das lideranças dizem que amanhã [um problema] está resolvido”. O ex-líder da task force para a Elaboração do Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Portugal deu como exemplo os EUA, onde o presidente Donald Trump prometeu resolver o problema da emigração no país, mas que acabou por expulsar menos migrantes do que o seu antecessor Joe Biden, no mesmo período de tempo. 

“Sem resultados, não há liderança”

Para Gouveia e Melo, a prova de algodão de uma boa ou má liderança passa sempre por saber se há ou não resultados. “A liderança exige resultados, sem resultados não há liderança“, remata o também Ex-Chefe da Autoridade Marítima Nacional.

Além disso, há uma série de características essenciais para um bom líder, onde estão incluídas a coragem. responsabilidade, a resiliência e a comunicação. “O líder é obrigado a tomar decisões, tem de ter coragem para se responsabilizar, [pelo que é] raro encontrar um líder que não seja moralmente corajoso”. Ainda assim, “hoje em dia encontramos muitos candidatos a líderes, mas que não têm essa capacidade“, reconhece Gouveia e Melo.

Outra característica essencial é a boa comunicação. E mais do que ter simpatia é preciso “transmissão de informação“. Gouveia e Melo recordou o episódio do primeiro momento em que teve de se apresentar à comunicação social, como líder da task force para a vacinação.

Mais do que dizer, o seu segredo para o sucesso passou pelo vestir. “Não digo que sou um exemplo de liderança, mas quando tive de aparecer a primeira vez, tive de comunicar imediatamente e a comunicação mais forte foi aparecer camuflado, [para dizer] que estava ali a trabalhar, representava os três ramos [das Forças Armadas] e que o inimigo era um vírus”.  

Gouveia e Melo recordou ainda que “não há poder sem responsabilidade” e que um líder tem de ser resiliente perante as dificuldades, pelo que recusou a ideia de um líder vulnerável, ainda que tenha reconhecido que o ser humano sofre de vulnerabilidades.

Almirante em Belém? “Diga à sua mãe que há esperança”

Durante o evento, o Almirante foi ainda surpreendido pela pergunta de um participante, que contou que antes de se deslocar a Vila Nova de Gaia tinha estado com a mãe de 95 anos, que desejava votar em Gouveia e Melo se este se candidatasse à Presidência da República, pelo que questionou o militar, sobre o que dizer à mãe quando regressasse da Convenção da Rede Doutor Finanças.

A resposta de Gouveia e Melo foi antecipada por risos do próprio, que rapidamente afirmou “diga [à sua mãe] que há esperança“.

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